CNV Falar: Comunicação Não-violenta para falar

CNV Falar: A comunicação não-violenta (CNV) é uma técnica para tornar a forma como nos comunicamos mais positiva, seja com outros ou com a gente mesmo.

De modo geral, nossa cultura atual nos influencia a estabelecer uma comunicação que não gera empatia ou compaixão e isso vem prejudicando nossas relações, tanto familiares quanto profissionais. E é importante lembrar que no contexto da comunicação a violência não se trata apenas de agressividade, mas de toda maneira que possa nos gerar desconforto, sentimentos negativos ou de resistência que bloqueiem nossa conexão com as pessoas à nossa volta e com os sentimentos e necessidades que nos cercam.

O psicólogo Marshall B. Rosenberg vem estudando e aplicando maneiras de estruturar nossa comunicação de forma a gerar empatia, compaixão e conexão, melhorando assim nossos relacionamentos. Segundo o estudioso, as 7 principais ações que alimentam uma comunicação violenta são:

1. Apresentar pensamentos e opiniões como se fossem sentimentos verídicos – o que acontece principalmente quando se usa o verbo sentir acompanhado de “que”, “como” e “como se”, o que se agrava ainda mais quando aparecem pronomes em seguida (eu, ela, ele, eles, isso, você ou até mesmo algum nome específico).

Exemplos: “Eu sinto que você não me entende”; “Eu sinto que ela não gosta de mim”; “Eu sinto que a Maria não vai com minha cara”.

2. Comunicar nossos desejos em forma de exigência insinuando punições ou retaliações caso eles não sejam atendidos.

Exemplos: “Guarde seus brinquedos ou você não vai poder sair”; “Espero que você entregue esse relatório até sexta para não termos problemas mais sérios”; “Se você não me der mais atenção vou acabar achando que você não me ama”. 

3. Fazer comparações diversas de forma a inferiorizar ou julgar os outros ou a nós mesmos.

Exemplos:“Pedro, por que você não fica quieto como a Patrícia? Olha como ela é bonitinha”; “Joana tem um corpo lindo, nunca vou conseguir isso”; “João está entregando os relatórios muito mais rápido que você, o que está acontecendo?”.

4. Fazer generalizações a partir de situações específicas ou pontuais de forma a criar uma imagem distorcida do todo.

Exemplos:“Você é muito bagunceiro. Mais uma vez não arrumou o quarto antes de sair”; “Atrasada de novo? Você é muito desorganizada”; “Você tratou a Maria mal, você é muito grosseiro”. 

5. Fazer julgamentos moralizantes, no qual quem pensa diferente de nós é totalmente errado ou mau.

Exemplos: “Você só pode ser bandido, já que defende esse partido político”; “Pessoas como você que gostam desse tipo de gente tem mais que apanhar mesmo”; “Quem apoia bandido devia ser preso também”.

6. Terceirizar nossos sentimentos, responsabilidades e atos para outras pessoas ou situações, nos colocando como vítimas incapazes de alterar nossa realidade.

Exemplos: “Só fiz isso porque não tinha opção”; “Queria muito usar isso, mas o que eles vão pensar”; “Eu queria ir, mas meu namorado vai ficar chateado se eu for”.

7. Usar palavras “sempre”, “frequentemente”, “nunca”, “jamais”, “raramente” e outras como verdades absolutas, não declarando nossa responsabilidade sobre essas percepções.

Exemplos: “Você está sempre atrasada”; “Eles nunca pedem desculpas”; “Ele deixa o quarto bagunçado frequentemente”.

A grande questão com a comunicação violenta é que como resposta normalmente as pessoas se rebelam, se fechando para o diálogo, o que impede de nos conectarmos e encontramos um denominador comum para garantir uma troca saudável nas nossas interações. Já a comunicação não-violenta influencia a construção de empatia e compaixão entre as pessoas ou até com a gente mesmo.

Essa construção facilita que resolvamos conflitos de forma saudável e permite encontrarmos um ponto pacífico nas nossas interações (mesmo que esse ponto seja uma discordância respeitosa).

A estrutura da comunicação não-violenta

O primeiro passo para praticarmos a comunicação não-violenta é nos tornarmos conscientes da nossa responsabilidade sobre a maneira como nos sentimos e vemos as situações no mundo, evitando nos colocar como incapazes de agir para mudar nossa realidade ou fazendo julgamentos moralizantes de nós mesmos ou das pessoas que nos cercam.

Desse ponto, Rosenberg propõe uma estrutura de comunicação que amplia nossa consciência sobre os sentimentos e necessidades envolvidas em cada contexto. É a partir dessa consciência e da declaração disso para as pessoas com quem nos comunicamos que se torna possível construir a empatia e a compaixão necessárias para se chegar a um acordo pacífico. I

sso por que, dentro da CNV, a violência sempre é reconhecida como uma necessidade não atendida e é somente a partir da consciência e do compartilhamento dessa necessidade que é possível substituir a violência pela não-violência. A estrutura para estabelecer essa consciência e declará-la, segundo Rosenberg (2006), é composta por 4 elementos fundamentais que podem ser apresentados em qualquer ordem:

“[1] As ações concretas que estamos observando e afetam nosso bem-estar; [2] Como nos sentimos em relação ao que estamos observando; [3] as necessidades, valores, desejos, etc. que estão gerando nossos sentimentos; [4] as ações concretas que pedimos para enriquecer nossa vida” (ROSENBERG, 2006, p. 26)

Ou ainda, mais detalhadamente,

Comunicação Não-violenta Matriz OSNP

1. A observação (isenta de julgamento)

A observação é a declaração objetiva de uma situação. Essa observação não pode conter avaliações ou análises de nenhum jeito, apenas uma descrição para contextualização dos envolvidos.

2. Os sentimentos

Depois da observação, se declara os sentimentos que surgiram na situação.

3. As necessidades

Após identificar os sentimentos, é o momento de expor quais necessidades não atendidas estão envolvidas na situação.

4. O pedido

Para fechar são apresentados os pedidos para sanar as necessidades ou excluir os sentimentos negativos.

Exemplos de CNV Falar

Os quatro elementos estruturantes da CNV podem ser apresentados em qualquer ordem também no CNV Falar, o importante é apresentar todas as informações para que seja possível agirmos na resolução dos conflitos. Alguns exemplos de frases usando a estrutura da CNV podem ser:

[observação] Eu observei que você não vai conseguir entregar o relatório dentro do prazo combinado [sentimento] e isso me faz sentir preocupado e apreensivo por que [necessidade] é importante para mim que a gente cumpra os prazos para que nossos colegas confiem em nós. [pedido] O que podemos fazer para você entregar esses relatórios até sexta?

[sentimento] Eu estou me sentindo inseguro hoje [observação] por que preciso fazer uma importante palestra para uma plateia muito grande. [necessidade] Preciso ampliar minha confiança de que sei o conteúdo, [pedido] você poderia assistir um ensaio meu e fazer algumas perguntas no final?

[pedido] Você toparia me acompanhar num cinema hoje? [necessidade] Estou precisando de alguma diversão diferente. [observação] Tive uma reunião difícil onde ouvi muitas coisas negativas sobre meu trabalho então [sentimento] estou me sentindo meio chateado.

10 dicas para a CNV Falar

  1. Deixe claro que a pessoa não vai se sentir culpada em não atender seu pedido (do contrário isso será uma exigência, não um pedido).
  2. Deixe claro que não haverá punições, criticas ou julgamentos se seu pedido não for atendido (do contrário isso será uma exigência, não um pedido).
  3. Deixe claro que o pedido deve ser atendido somente se isso for feito de livre vontade (do contrário isso será uma exigência, não um pedido).
  4. Enquanto ouve evite aconselhar, competir pelo sofrimento, educar, consolar, contar uma história, encerrar o assunto, se solidarizar, se explicar, fazer um interrogatório ou corrigir a pessoa.
  5. Enquanto ouve preste atenção às necessidades dos outros e não ao que eles estão pensando de você.
  6. Evite o uso de linguagem vaga com frases abstratas ou ambíguas.
  7. Formule solicitações em forma de ações concretas que possam ser compreendidas e realizadas.
  8. Pergunte antes de oferecer conselhos ou estímulos.
  9. Se livre de todas as ideias preconcebidas e julgamentos.
  10. Use linguagem positiva.

Veja outras etapas da CNV (Comunicação Não-Violenta): Ouvir e Autodialogar, e também conheça o livro com a teoria completa em Comunicação Não-Violenta de Marshal Rosenberg.

Referências

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.

1 comentário em “CNV Falar: Comunicação Não-violenta para falar”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima